Além de causar o envelhecimento precoce, a exposição desprotegida e prolongada ao sol aumenta em até 10x o risco da doença. Especialista explica como identificar e maneiras de prevenir o câncer de pele
Os cuidados no verão devem ir muito além do uso do protetor solar, afinal, informação também é fundamental para prevenir possíveis riscos à saúde, como o câncer de pele. Durante todo o mês, a campanha Dezembro Laranja vem para alertar sobre a doença, tipo de tumor maligno que mais afeta a população brasileira.
A exposição prolongada ao sol sem proteção necessária, além de causar o envelhecimento precoce, aumenta em até 10x o risco de câncer de pele – justamente pelo contato direto com os raios nocivos. Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), a doença ultrapassa no Brasil a marca de 229 mil novos casos todos os anos – representando cerca de 31,3% dos tumores malignos registrados.
Sinais para ficar de olho
A Dra. Sheila Ferreira, oncologista da Oncoclínicas em São Paulo, explica que os primeiros sinais podem ser alterações na pele, bastante semelhantes a pintas ou manchas escurecidas, sejam elas novas ou de nascença, que se modificam com o tempo. “Essas alterações podem ser identificadas a partir da regra do ‘ABCDE’ – Assimetria, Bordas irregulares, Cor, Diâmetro e Evolução”, diz.
- Assimetria: quando metade da lesão é diferente da outra parte
- Bordas: se a pinta, sinal ou mancha apresenta um contorno irregular
- Cor: quando a lesão possui cores diferentes, podendo ser entre vermelho, marrom e preto
- Diâmetro: caso a lesão apresente um diâmetro maior do que 6 mm
- Evolução: mudanças nas características da lesão ao longo do tempo (tamanho, forma, cor)
“Geralmente, essas alterações são percebidas pelo próprio paciente e são fundamentais para a identificação de possíveis lesões malignas. Caso algum dos sinais seja notado, é importante procurar um especialista de modo que seja possível o diagnóstico e tratamento correto”, acrescenta Sheila Ferreira.
Tipos de câncer de pele
De modo geral, o câncer de pele pode ser dividido em dois subtipos: o câncer de pele não melanoma (carcinoma basocelular e espinocelular), mais frequente, e o melanoma, mais raro, porém, mais agressivo.
- Carcinoma basocelular (CBC) – aparece nas células basais, que ficam na camada superior da pele. As regiões afetadas com maior frequência são: rosto, couro cabeludo, pescoço, costas e ombros. Pode se parecer com lesões não cancerígenas, como a psoríase ou eczema. É considerado o tipo mais prevalente de câncer de pele;
- Carcinoma espinocelular (CEC) – costuma se manifestar nas células escamosas, presentes na camada superior da pele. Geralmente, aparece em áreas com sinais de dano solar, como rosto, orelhas, pescoço, couro cabeludo, entre outros, e tem aparência avermelhada – como se fosse uma ferida ou machucado. É o segundo tipo de câncer de pele mais comum;
- Melanoma – tipo mais raro e com maior índice de mortalidade. Possui a aparência de “pinta” ou “sinal” em tons acastanhados. Embora seja mais comum o surgimento em áreas expostas ao Sol, o melanoma pode surgir em qualquer região do corpo, inclusive nas palmas das mãos e plantas dos pés. Estes casos ocorrem mais comumente em pessoas de pele negra.
Apesar de um diagnóstico assustador, vale lembrar que quando é descoberto precocemente, as chances de cura podem chegar a mais de 90%.
Existem fatores que aumentam a incidência do câncer de pele?
Os principais fatores relacionados ao aumento da incidência do câncer de pele são:
- Ter pele, cabelos e olhos claros, ou pele que se queima com facilidade;
- Ter história familiar ou antecedente pessoal de câncer de pele;
- Exposição excessiva ao Sol de forma desprotegida, principalmente durante a infância e adolescência;
- Exposição a câmaras de bronzeamento artificial;
- Imunossupressão (pessoas com sistema imunológico deficiente).
“No caso de crianças e pessoas negras, o câncer de pele é considerado raro, mas pode ocorrer em qualquer indivíduo. Além disso, é necessário ficar de olho também se houver histórico familiar da doença. Caso o paciente note sinais ou pintas que mudam de cor, formato, ou tamanho, ou ainda feridas que não cicatrizam, sangram com facilidade, é fundamental procurar um especialista para a avaliação adequada”, alerta a Dra. Sheila Ferreira.
Prevenção é tudo!
Alguns cuidados podem ser adotados na prevenção do câncer de pele. A principal medida é a utilização do protetor solar. Ele deve ser usado diariamente, mesmo em dias nublados, com fator de proteção solar (FPS) de no mínimo 30. É importante também reaplicar o produto a cada 2 horas, principalmente em atividades ao ar livre. “O hábito de usar o protetor solar deve ser tão comum como o hábito de escovar os dentes todas as manhãs e deve ser estimulado desde a infância!”, ressalta. Devemos nos proteger durante todo o ano, com atenção especial ao período do verão, em que a incidência dos raios ultravioleta (UV), nocivos à saúde, é mais prevalente.
Além disso, outras medidas adicionais podem ser utilizadas, como uso de bonés, chapéus de aba larga, roupas e acessórios com fator de proteção solar contra os raios (UV), assim como evitar a exposição excessiva nos horários em que a incidência solar é mais intensa- entre às 10h e às 16h.
Diagnóstico e tratamento
Uma coisa é fato: assim como para outros tipos de câncer, quanto antes o câncer de pele for diagnosticado maiores são as chances de sucesso no tratamento e cura. O diagnóstico é feito a partir do exame clínico em consultório, podendo ser necessários exames complementares que visualizem as camadas da pele e alterações suspeitas, além de biópsia.
Segundo a oncologista da Oncoclínicas São Paulo, o tratamento vai depender do estágio da doença. “Na maioria dos casos, apenas a cirurgia é suficiente. A avaliação de um especialista é primordial, pois, em alguns casos, pode ser também necessário algum tratamento complementar como radioterapia, imunoterapia ou terapia alvo”, explica.
“Trazer informações sobre o assunto é fundamental para que cada vez mais pessoas conheçam os sinais do seu próprio corpo e consigam identificar alguma anormalidade da pele. Além disso, deve-se sempre destacar sobre a necessidade do uso do protetor solar diariamente, sendo ele uma das principais alternativas para a prevenção da doença que atinge milhares de pessoas todos os anos. A boa notícia é que, atualmente, temos diversas opções de tratamento e que as chances de cura aumentam muito quando o diagnóstico é feito em estágios iniciais, daí a importância de procurar precocemente auxílio médico na identificação de uma lesão suspeita”, finaliza Sheila Ferreira.